Que a conta caiba nos dedos das mãos
Não era incomum ouvir dizer que, à medida em que vamos amadurecendo (leia-se envelhecendo), vamos nos tornando mais seletivos nas relações em geral. Confesso que esse papo soava-me um tanto quanto estranho, porque já considerava-me seletiva desde bem jovem.
Com o passar do tempo, fui entendendo
melhor esse lance. O conceito de seleção, quando na fase de maturidade mais aflorada,
leva em consideração questões bem mais profundas do que eu era capaz de
imaginar há duas décadas. Esse processo muitas vezes se dá naturalmente, sem
dramas, tampouco traumas. No entanto, na maior parte dos casos, causa certa dor,
incompreensão e até desgaste, mas passa. E, depois que passa, conseguimos até
encontrar sentido.
Como tenho minhas fases mais reflexivas,
sobretudo, no período de final/início do ano, que também coincide com o período
do meu aniversário, essa pauta tem sido recorrente nos últimos anos. E, pra ser
sincera, tenho me surpreendido positivamente com o resultado dessa seletividade,
que vale ressaltar, quase nunca é unilateral. Afinal, selecionamos e somos
selecionados. Então, o inverso acontece seguindo a mesma lógica.
O tal do lance que mencionei antes é
que a vida foi me ensinando a perceber e aceitar esse fenômeno, o que, aliás,
tem tornado tudo muito mais fácil. Tem sido especial valorizar as relações que
se mantém realmente vivas, mesmo com todos os fatores que, a rigor, favorecem
exatamente o contrário.
Hoje, penso que lindo mesmo é quando você
chega num determinado ponto da vida e consegue contar nos dedos das mãos, sem
medo de errar, os amigos que conquistou.
Gostoso é quando depois de um certo
tempo sem conversar com um deles, seja pela correria insana da vida de ambos ou
em virtude da distância física que há entre vocês, a agenda casa e conseguem
estabelecer a melhor conversa dos últimos tempos. E é como se não houvesse nenhum
espaço de tempo entre o contato anterior e o que está acontecendo em tempo
real.
E o melhor de tudo, não há cobranças.
Cada uma das partes sabe sobre o seu tempo e o tempo do outro. Sim, porque as
vidas seguiram, cada qual o seu próprio fluxo. É simples assim. Uns constituem família.
Outros constroem carreira. Há, ainda, os que fazem as duas coisas.
Amigo que é amigo, torce, vibra, acompanha
à medida do possível. Cede o ouvido ou o ombro na necessidade do outro. Levanta
a mão pra avisar que é a sua vez de ter atenção, porque a carga da vida está
pesada por demais. E, por fim, respeita. Esse, sim, é raro. A parte boa é que
eu tenho alguns e, cá entre nós, são os melhores que eu poderia ter e, pra
minha sorte, cabem nos dedos das minhas mãos.
Por Patricia Limeres – escrito em
08 de fevereiro de 2021.
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