Lucidez prometida

Um texto nasceu de mim nesta madrugada. Bem clichê trazer à luz ideias nada razoáveis em plena escuridão.

Tenho colecionado noites em claro. Não que me orgulhe disso. Que tipo de pessoa escolhe esse item de coleção? Taí uma boa pergunta. Justo eu, que adoro dormir. Não quero colecionar insônias. Quero minhas noites de volta, aquelas que eu passava na companhia dos sonhos.

Luto para alcançar o sono. Giro de um lado pra outro na cama. Mudo de posição. Nada acontece, além de mais agitação. Assim, arrisco outra estratégia. Fico parada, na esperança de que assim ele venha ou eu vá ao encontro dele, mas os pensamentos me interceptam no caminho.

Eles invadem a mente e se embolam como um novelo de lã, quando ajeitado após uma queda e rolamento pelo chão até o último centímetro. Olhando pela superfície, o trabalho aparenta ter ficado perfeito, mas basta um simples manuseio para identificar que agora não passa de um emaranhado de nós.

E agora? Desatar "nós" requer um bocado de paciência. Pode libertar e aprisionar ao mesmo tempo. Ao passo em que um nó é liberado, surge outro e mais outro. Numa descoberta aparentemente sem fim.

Já é tarde. A mente clama por descanso. O pedido não é concedido. Os olhos ardem. Então, eu cerro-os, na tentativa de buscar o sono, mas nem em sonho. Procuro burlar as imagens que se formam com cheiros e cores. Elas me levam para lugares em que já estive e que não posso ou não quero mais estar.

Já que não posso com elas, junto-me a elas, mas não sem uma boa dose de sabotagem. O que faço é sobrepor imagens do não vivido, mas desejado. Nesse processo, lá pelas tantas, entre um bocejo e a exaustão, eu me perco em meio aos fragmentos reais de uma vida e os de uma história imaginária a ser vivida, se permitida.

E, como num passe de mágica, a noite vai abrindo espaço para os primeiros raios de luz que anunciam a chegada do amanhecer. Eles sussurram em meus ouvidos, como uma espécie de música de ninar, a promessa de que a brisa da manhã trará com ela a lucidez. E, eu, sem exitar, acredito na promessa, mais por desistência que por crença, e me rendo ao sono que tardou, mas chegou. Já é dia e agora eu durmo.

Por Patricia Limeres - em 17 de outubro de 2017.




Comentários

Bons sonos essa semana.

Olhar o relógio passando as horas na madrugada sem durmir é pesado.

Bom mesmo é o sono em que a gente apaga. Tive um sono assim quando fui em Uberlândia. Era pequeno ainda. Fomos num casamento, em muita gente, como se fosse uma excursão. Acordei dentro do hotel. Sono assim é que é bom.

Boa semana.
Lucas
Patricia Limeres disse…
Valeu, Lucas! Pela visita ao blog, pela leitura e pelo compartilhamento de um momento.
Obrigado, Patrícia.

Sinta-se à vontade para visitar o meu blog também: lucastrfreitas.blogspot.com

Lucas

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