Esfriamento

Dormiram juntos um sem número de vezes.
Se já não acordavam abraçados, um buscava logo o abraço do outro.
Eram ternos e quentes os abraços.

Nos dias de hoje, quando ela se deita para dormir, ele já está prestes a despertar.
Entre eles, agora há uma distância específica de espaço geográfico, de tempo e de realidades.
Para cada uma delas, cabe a adaptação e o hábito. Nada mais.
Como dizem, tudo é novo até que se torne comum.

Ela segue com a sua rotina inalterada.
Ele faz descobertas o tempo todo, ela supõe.
É sempre difícil ser quem fica.
Porque quem fica não testemunha o que é visto e vivido por quem vai.

As manhãs se acomodam em si mesmas. As noites não.
E os dias passam assim, mais vagarosos que velozes.
Há dia em que chegam notícias dele.
No dia em que chegam pela metade, vale?
E tem dia que não chega nada. Apenas silêncio.

E, então, ela pensa: já era de se esperar.
Na verdade, nada que a surpreenda, a não ser a rapidez.
Em menos de uma semana a distância já extrapola a fronteira geográfica.
Nem é distância. É distanciamento. Esfriamento, talvez.
Do lado de cá é primavera, mas neva.
Já não há abraços. Nem verbo há.
Só ausência.

Ela poderia se prolongar nessa ausência e falta.
Mas prefere pensar nos espaços que foram preenchidos em outro tempo.
Aquele tempo em que a “presença” era sempre um presente.
As pessoas vêm e vão. As lembranças do que elas provocam em nós ficam.

Por Patricia Limeres – em 11 de outubro de 2017.

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