Desassossego

Talvez esse tenha sido o seu dia mais longo.
Se houve outro igual ou mais longo antes, não lembra.

É duro falar da razão.
Mais dura ainda é a razão em si.

Querer estar com quem não mais está.
Não saber nada mais sobre esse quem, que já não se sabe mais quem é.

Cada novo dia traz uma espécie de convocação à tortura.
Você tenta desviar o pensamento em vão. No fundo, o que faz é dar voltas e mais voltas para retornar ao mesmo lugar de partida.
Aquele lugar em que você não está e que lhe é inacessível. Você já nem é bem-vindo(a) lá.

Enquanto isso, o tempo corre desacelerado, quase como que em câmera lenta.
Nada mais tem graça. Ou será que tem e você não a esteja vendo?

Aí, diante disso, você dorme. Sono é fuga.
Depois, cansado(a) de descansar, você assiste a um filme, lê um livro. Qualquer coisa que te arranque temporariamente da realidade que é uma só, ainda que dolorida.

O dia, enfim, termina.
Então, o desassossego que te fez companhia dá uma trégua.
E é nessa trégua que você decide se o quer por companhia amanhã e depois.
Afinal, o desassossego não é intruso. Ele chega aonde é convidado e permanece onde é bem recebido.

Por Patricia Limeres - em 29 de outubro de 2017.



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