Filme repetido

Entre as coisas que mais curto fazer está assistir filmes. Não importa se na tela do cinema ou na TV de casa mesmo. Por falar em assistir filme em casa, gosto inclusive do ritual que antecede o início do filme. O preparo da pipoca - o cheiro dela no ar, por si só, já lembra ou pede um filminho; o refrigerante bem gelado apoiado no braço do sofá ou sobre a mesa de cabeceira e está quase tudo pronto! Só resta me ajeitar confortavelmente, apertar o botão play no controle remoto e me abrir para as surpresas que a história reserva. Às vezes e, só às vezes, até vale cochilar no meio do filme.

Essa prática me agrada tanto que o número de filmes em DVD que possuo gira em torno de 300. Tudo porque gosto de assistir mais de uma vez ao mesmo filme. É como se me fosse apresentada uma nova perspectiva, uma interpretação diferenciada da primeira, um outro olhar, mais minucioso e detalhista.

O curioso é que quando se trata de vida real, não me agrada tanto que as histórias se repitam. E a razão é bem simples. Na vida real, os filmes que costumam reprisar são aqueles que não gostaríamos de ter assistido uma vez sequer, que dirá repetir a dose e de camarote.

Nas histórias de ficção, temos a opção de assistir até o final, ou não. Se no cinema, basta levantar e se ausentar da sala. Se em casa, basta apertar a tecla stop ou um pause já resolve. Nas histórias das nossas vidas, muitas vezes não temos o “controle” nas mãos.

E, de repente, nos deparamos com a exibição quase que fiel de um filme indesejado que parece já termos assistido antes. É quase tudo igual. Cada cena, cada fala, cada gesto, olhar. Até o tom parece exatamente o mesmo. As desculpas e justificativas também são...idênticas. Talvez seja por isso que costumam dizer que a “arte imita a vida”. Simplesmente porque a vida se repete. As pessoas se repetem.

Quer saber o que me é mais intrigante? É o fato de que sou plenamente capaz de assistir as histórias, àquelas que não são as minhas, inúmeras vezes e dar significados e importâncias diferentes a elas tantas vezes quantas eu assisti-las. Já quando as cenas que se repetem são as referentes a minha vida, embora eu tenha consciência de que é para me convidar a praticar o mesmo exercício, fico estagnada, indignada por estar vivendo tudo de novo e do mesmíssimo jeito.

É como se a vida apertasse o botão de stop em minha direção. E, então, o filme se repete sem que eu consiga mudar o rumo da história. Sem que eu possa dar um outro fim à ela. Um fim que me seja mais...leve...feliz...doce, quem sabe.

E, nesse ponto da história, me pergunto: a culpa é de quem? Para essa pergunta eu tenho resposta: a culpa é só minha. As pessoas só fazem conosco o que permitimos que façam. Mas de que me adianta saber de quem é a culpa, se o que eu mais preciso saber é como evitar a repetição? Para esse questionamento eu ainda não encontrei solução.

Assim, resta-me apenas a expectativa de aprender logo a lição que ainda não captei, para que eu possa viver uma nova história, sem que eu precise assisti-la um dia, repetida.

Por Patricia Limeres – em 04 de janeiro de 2012.

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