Aquietação

Hoje não há espaço em mim para qualquer inquietação. Então, vou falar da ausência dela, o que é bem atípico.

Depois de um começo de ano conturbado e meses tomados de tensões, preocupações, incertezas e instabilidade, esta última em âmbito interno e externo, pessoal e profissional, decidi escolher um roteiro de férias que me possibilitasse o desligamento de tudo e também de todos, exceto do meu companheiro mais fiel, o Tango.

Iniciei as pesquisas e consultas no Google, digitando tão somente: hotéis fazenda que aceitam cachorro em Goiás. Optei por Goiás por uma razão bem simples. Resido atualmente em Catalão/GO e não queria ir muito longe, dado o medo e inexperiência que tenho em dirigir em rodovia. O resultado foi uma pequena lista de hotéis e pousadas. Entre todas as opções, escolhi a Pousada São Bento, localizada em Alto Paraíso, a caminho de São Jorge, na Chapada dos Veadeiros.

Uma semana depois, com o carro já revisado, lá estava eu arrumando as malas: a minha e a do Tango. Todos os acessórios preparados. Tudo pronto!
Assim que a claridade deu boas vindas a mais um dia, pegamos a estrada. Munida de GPS, coragem e fé dei início à trajetória de mais de 500km, em companhia do ser mais puro, doce e amável.

Tudo corria muito bem até que ingressei na GO436- logo após Cristalina. Trata-se de uma estrada de mão dupla, sem acostamento e com buracos tão grandes e profundos que tomavam praticamente as duas pistas. Eram muitos e sequenciais. Eu compararia a verdadeiras piscinas. Assustador. Rali dos sertões em pleno asfalto. Mas beleza, já que era para desafiar o medo, que fosse em grande estilo. Pois assim foi. Com Deus no comando dos meus pés nos pedais e de minhas mãos no volante, chegamos em Alto Paraíso sãos e salvos, depois de nove horas de viagem.

Na chegada da pousada, confesso que aquela lágrima que se traduz em alívio rolou pelo canto do olho. Neste momento, eu agradeci a Deus em prece e pensei: que valha a pena! Não demorou muito para eu perceber que valeria bem mais que isso.

Ontem, conheci uma das cachoeiras que fica dentro da propriedade do hotel: Cachoeira São Bento. Delícia pura. Além disso, fiz mais de uma hora de passeio a cavalo, com direito a trote, cavalgada e calmaria. Trovão me conduziu por lindos caminhos, daqueles de nos fazer cair o queixo e provocar suspiros. Foi lindo!

Mas hoje...ahhhh...hoje foi especial. Após o café da manhã tradicional do campo, fui conhecer mais duas cachoeiras do hotel: Almécegas I e II. Antes de ir, uma das funcionárias da pousada deu-me a seguinte dica: vá primeiro na Rainha (Almécegas I) e depois na Princesa (Almécegas II). Segui o conselho e entendi a analogia e o porquê da sequência recomendada. Na primeira, uma grandeza. Já na segunda, a simplicidade. Ambas com tamanha beleza!!! Na estrada de terra que dá acesso às trilhas, deparei-me com uma placa que dizia: “Quando sair leve apenas lembranças. Deixe apenas pegadas”.

Depois de banhar-me naquela água cristalina, segui para o Vale da Lua, em direção a São Jorge. Não sem antes parar no famoso Rancho do Waldomiro, para almoçar o prato tradicional da região, a Matula de Carne. Só de lembrar dá aquela água na boca de tão saborosa. Chegando no Vale da Lua, mais encantamento. Não tenho palavras. Um novo banho de uma água fria que tem capacidade de aquecer por dentro, limpar, lavar e revigorar. Um presente da vida!

Ao regressar ao hotel, um belo banho e...massagem. Isso mesmo! Eu costumo fazer massagem há tempos, mas nenhuma das que já fiz pode ser comparada à que recebi hoje, das mãos de Marry. Foi transcendental. Senti a energia tomar conta de cada pedacinho do meu corpo. Desliguei-me da matéria para me conectar com meu eu interior, com a energia vital que me alimenta. Relaxamento em alto grau.

E, para finalizar esse dia abençoado, um caldo bem quente preparado e servido no fogão de lenha, acompanhado de pão caseiro e uma taça de vinho...tudo isso ao lado da lareira.

O que mais eu poderia querer? Dias perfeitos...em plena conexão entre mente, corpo e espírito. É...inquietação é algo que realmente tem passado bem longe daqui.

Por Patricia Limeres – em 16/05/2016.

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