Tratar diferente o que é igual

Uma história que me foi contada por uma amiga que, por sua vez, ouviu de outra amiga me despertou vontade de escrever. Sei lá. É tanta gente sofrendo, dia após dia, pelos mesmos males: amores interrompidos, mal resolvidos ou não correspondidos; apego ou desapego; ausência de amor - próprio e ao próximo; solidão; falta de dinheiro ou excesso dele (acredite); problemas familiares; frustração profissional e por aí vai.

Aí, pensando sobre isso, o meu lado prático logo grita: mas se os males são os mesmos desde sempre, as soluções para eles, a rigor, também são as mesmas. Só que não! Os males, se é que são males ou apenas o nosso modo de ver, podem até serem os mesmos, mas as pessoas não. As pessoas são diversas em si mesmas. São únicas, se comparadas. Porém, são também várias. Sim, porque são controversas, contraditórias e dúbias.

Para cada situação idêntica, existem inúmeras possibilidades de reações, de acordo com cada pessoa com quem acontece e em que etapa de suas vidas. Quantas pessoas ouvirmos a respeito de um mesmo episódio será o número exato de opiniões e posições diferentes que teremos. Podem ser pessoas do mesmo sexo, da mesma faixa etária, classe social, com afinidades. Não importa. Serão ângulos distintos. Isso sem entrar no mérito dos casos em que as pessoas dizem que, no lugar do outro, fariam isso ou aquilo, assim ou assado, mas quando sentem na própria pele, a coisa muda de figura.

E, então, você dirá: é só para contrariar ou confundir; ou, será que eu estou errado(a)? E eu digo que não é nada disso. Trata-se apenas da bagagem de vida de cada um, somada a sua verdade, essência e momento.

Não dá para negar que estamos quase sempre evitando conflitos lá fora. Talvez porque estejamos ocupados demais com aqueles que travamos com o lado de dentro. Quer algo mais corriqueiro do que aquela famosa luta interna do “eu quero, mas não posso” ou “eu posso, mas não quero”?

E, no final das contas, não fazemos nem o que podíamos e muito menos o que queríamos. Tudo em nome da dúvida, da preservação, do medo, do julgamento alheio ou da simples dedução. Pois eu meu arrisco dizer que, normalmente, quem tem muitas dúvidas morre com elas. Quem muito tenta se proteger se engana e, de quebra, não vive. Quem tem medo...bom, quem tem medo está vivo. É, porque todos têm seus medos. O que fazem com eles é que muda tudo. Quem tenta fugir do falatório alheio se frustra, porque as pessoas julgam, de um jeito ou de outro. E, por fim, quem curte deduções costuma deduzir errado.

Agora, pagar pra ver é pra quem tem coragem e atitude. Apenas os corajosos correm o delicioso risco de viver acertadamente. E, caso não acertem, ainda têm o direito ao arrependimento, mas não sem antes aprenderem. Mesmo que tenham de repetir o erro de novo e mais uma vez...e quantas vezes forem necessárias até que acertem e isso pode nem vir a acontecer. Afinal, quais garantias que temos nessa vida?

Quanto a mim, encontro-me num momento de vida muito particular. Momento em que percebo, com certo esgotamento, as repetições nítidas de histórias cujos enredos eu já conheço de cor. Já sei o fim, antes mesmo do efetivo desenvolvimento. Porque é justamente aí que terminam as minhas histórias: na ausência de desenvolvimento, de continuidade. Isso tem me cansado muito, admito. Ando sem energia para gastar com essa mesmice. Justo comigo, que adoro o imprevisível.

No entanto, mesmo cansada, não abro mão de viver as experiências que considero potenciais. Tenho apenas pensado na possibilidade de procurar surpreender o previsível. Já que a situação é a mesma e se repete sempre, o que preciso mudar é a reação, a expectativa. Não importa o que me acontece, mas o que faço com aquilo que me acontece, não é isso? Então, acho que o lance é tentar, testar, experimentar, mudar o jeito, o ritmo, o tom. Enfim, dar tratamentos diferentes ao que é igual. Uma hora eu acerto. Enquanto isso, o caminho segue.

Por Patricia Limeres – em 20 de setembro de 2012.

Comentários

Postagens mais visitadas