Ser ESPECIAL não basta

De uns tempos pra cá eu adquiri certa aversão à frase “você é especial”. Uma aversão que não é gratuita. Ao contrário, é justificada.

É estranho dizer e admitir isso, pois sempre ansiei ser considerada especial.
Na realidade, o meu trauma com essa nomenclatura é mais relacionado ao âmbito de relacionamentos amorosos.

Por vezes sequenciais eu ouvi jovens, rapazes ou homens feitos me enchendo de elogios, tais como: você é encantadora, inteligente, simpática, comunicativa, carinhosa e muito especial (não necessariamente nessa ordem). No entanto, a palavra especial, que normalmente é a que encerra esses sucessivos elogios, sempre vem acompanhada de um "MAS". Chega a ser engraçado, pois não são os elogios que diferem o discurso de cada um. São os MAS. Já ouvi dos mais diversos deles.

Alguns, inclusive, são clássicos e nada originais: "você é muito especial, mas estamos vivendo momentos de vida diferentes", “eu estou querendo curtir um pouco a vida”, “não sei se quero me envolver nesse momento”. Ou o pior de todos: “acho melhor pararmos por aqui. O problema não é você. O problema sou eu”.

Nestes casos, o pior não é o fim, mas o que há por trás dele. Muitas vezes os elogios têm a única função de aliviar o mal-estar de quem termina a relação. É como oferecer o famoso consolo para os que sofrem.

Quando é o outro que decide terminar a relação e você não está preparado para isso, a autoestima costuma ser a última a se apresentar e, nesses casos, os elogios até podem vir a calhar. Muitas pessoas que são deixadas dessa forma conseguem se sentir melhores e menos insignificantes.

Comigo acontece o inverso. Odeio quando o homem com quem estou me envolvendo utiliza-se de elogios para terminar a relação. Para que me elogiar se o objetivo é terminar? É a forma de me fazer sentir insuficiente ainda que eu realmente seja digna de todos os elogios?

Ah não! Por favor, não. Não me elogie ao terminar comigo. É covardia demais. Para terminar comigo fale-me do desamor que chegou. Critique-me. Fale-me sobre os meus defeitos ou sobre as minhas chatices. Sou bem capaz de encará-los e discuti-los.

Dizer a uma pessoa que ela é especial deveria significar, a meu ver, que a pessoa de fato é especial, mas a palavra foi banalizada, assim como tantas outras. Virou subterfúgio. A verdade é que ser ESPECIAL não basta. Aliás, nunca bastou.

Então, gaste energia para falar do que é essencial, aos olhos e ao coração. Seja coerente. Seja decente. E, por fim, seja concreto. Porque mesmo num término é possível manter a dignidade: a sua e a do outro.

Por Patrícia Limeres – escrito em maio de 2007.

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