Orfã

Acabo de assistir ao último episódio da série "Sex and the City". Para começar, quero declarar que já estou me sentindo órfã. Ainda sob o efeito provocado pelo desfecho da série, enquanto escrevo, choro litros.

Isso me faz lembrar das muitas vezes que me peguei chorando com os dramas ou emoções das personagens: Carrie - a colunista que escreve sobre sexo e a Big Apple; Samantha - a relações públicas sexy que faz muuuuito sexo e, sem pudor; Miranda - a advogava prática e objetiva; e Charlotte - a romântica e entusiasta do amor à primeira vista.

Perdi as contas de quantas vezes o nível de identificação entre mim e essas mulheres, entre a minha vida amorosa – ou, cá entre nós, a inexistência dela - e a delas, chegou ao ponto em que me reconheci em determinadas cenas do seriado. E nesses momentos frequentes, o universo da ficção e da realidade se fundiam. Sim, porque os dramas delas eram também os meus. Exatamente os mesmos ou quase iguais. Assim, mais uma vez estabelecia-se a conexão. Era como seu eu pudesse dizer: prazer, somos íntimas. Agora entende o motivo de me sentir órfã?

Mas não é só em lágrimas e dramas que se baseia o seriado. São incontáveis as gargalhadas que me renderam as aventuras dessas quatro mulheres lindas, bem sucedidas, independentes, inteligentes e poderosas. Quatro mulheres inseparáveis, mas cada qual com a sua personalidade marcante. O que elas têm em comum? Três coisas em especial: 1. A amizade "incondicional" que têm uma pela outra; 2. Um enorme coração; 3. Uma vida amorosa mal resolvida.

Elas não são iguais. Ao contrário. São bem diferentes, mas se respeitam acima de TUDO! Elas discordam, emitem suas opiniões, defendem seus pontos de vista, discutem...até brigam, mas sabem fazer as pazes. Pedir desculpas. E, sobretudo, sabem perdoar. Também sabem ceder, conceder e compreender. No entanto, esperam, no mínimo, que sejam compreendidas e perdoadas.

Mulheres que vivem e sabem viver. Mulheres que não têm vergonha de falar a respeito do que sentem e de como se sentem, sem falso moralismo ou julgamentos.

Ao longo da série, ou seria da vida? Todas passam pelos seus altos e baixos. E quando o mundo parece ter desabado para uma...lá estão as outras três para ajudá-la a reerguê-lo.

Defendem umas às outras mesmo quando sabem que está tudo errado. E fazem isso com muito humor, sarcasmo, ironia e, às vezes, até com certa acidez. O mais curioso é que, quando tudo parece estar incrivelmente certo, elas procuram algo errado. O famoso "procurar chifre em cabeça de cavalo". Será que a vida tem graça sem uma boa dose de drama? Opa! Já estou me sentindo meio Carrie...rs.

A questão é: na alegria e na tristeza; na saúde ou na doença...elas estão juntas. Sempre juntas. Seria a amizade uma espécie de compromisso...casamento? Não sei. O que sei é que a amizade verdadeira, sólida e duradoura entre elas me causa contentamento. Mais que isso. A amizade delas me emociona. Uma amizade que sobrevive ao tempo, à distância, às diferenças e às intempéries da vida. Simplesmente uma AMIZADE inspiradora. Apenas isso e tudo isso.

Quando o final da série foi se aproximando, nas duas últimas temporadas mais especificamente, as coisas começam a se acertarem para elas. Enquanto cada uma delas vivia o seu “relationship”, a todo momento eu tinha aquela sensação de que elas iriam se afastar naturalmente. Eu estava enganada. Elas permanecem intimamente próximas - porque proximidade não está relacionada apenas a distância física e geográfica.

Sempre quis fazer parte de uma amizade assim: sem rompimentos ou afastamentos. Sem essas de "estou sem tempo", "não faço outra coisa a não ser trabalhar", "estou sem grana"...quando se quer estar entre pessoas que amamos, tudo e qualquer coisa pode se tornar uma boa desculpa para estar junto.

A série termina em final feliz. Todas encontram “o homem de sua vida”. E elas? Continuam unidas. Então, me pergunto: por que na vida real as amizades esfriam depois que os relacionamentos amorosos se iniciam? Não deveria ser assim. Deveria ser como em “Sex and the City”, onde elas se permitem viver “os momentos das garotas” e não abrem mão disso. Afinal, assim como retrata o seriado e com muita propriedade, os relacionamentos amorosos podem vir e ir com a mesma facilidade. E, por vezes, quando vão, machucam nossos corações. Já as amigas ficam...para recolher os cacos, tratar das nossas feridas e ter paciência com as marcas e cicatrizes, porque essas ficam.

Sinto falta da época em que eu tinha amigas com as quais mantinha encontros frequentes para falar sobre amenidades, sobre trabalho, sonhos, objetivos, ideais, dramas e, claro, sobre homens, amores, decepções e também desafetos.

Apenas agora, no auge dos meus quase 33 anos, solteira, disponível e com quase todas as minhas amigas seriamente comprometidas é que me dou conta disso.

Mas uma coisa é certa: sempre é tempo de fazer novas amizades e até de reatar amizades adormecidas. Afinal, o que seria de nós e de nossas vidas sem os amigos?

Por fim, como pode um seriado, aparentemente, tão fútil e superficial provocar reflexões tão intensas e profundas?

É, acho que eu preciso de um drink. Um Cosmopolitan, please? RS

Por Patricia Limeres - escrito em 21 de novembro de 2010.

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