O resgate daquilo que está (perdido) em mim

Faz um tempo que não passo por esse espaço virtual que, sem restrições, tamanho ou limite abriga tudo aquilo que emana do meu íntimo, sem me criticar, julgar ou tolher, nem me apontar o dedo em riste na cara. Simplesmente recolhe, me acolhe. Sim, porque o que escrevo é o que sou, reflexo do que trago – de melhor e de pior – em mim. Uma seleção.

Tal afastamento pode causar a impressão de que ando carente de inquietações. Quem dera! Ao contrário. Ando carente de tudo, menos delas. E é justamente por estar cheia delas que testei uma espécie de isolamento, bloqueio. Inútil. Estão em mim, em minha mente. As carrego comigo. São tantas, que pesam. Se as guardo, tornam-se peso (pesado) e morto, inacessíveis que estão. Não que escrever resolva, mas ameniza. É como se, ao externar, eu estivesse fazendo algo com esse emaranhado de sensações. A tentativa de organizar os pensamentos e ideias em palavras, já me parece suficiente, ainda que dê em nada, além de mais confusão.

Há quem pense em “inquietação”, como sinônimo de algo ruim. Considero essa leitura limitada, pois as inquietações também nos fazem buscar respostas e soluções, nos provocam, nos tiram dos comodismos, nos arrancam dos padrões do cotidiano, nos fazem conhecer um pouco mais sobre nós mesmos, sobre os outros, sobre o mundo. É certo que nem sempre nos garantem o entendimento. Não mesmo. Aliás, é por não compreendermos que nos inquietamos. Coloco no plural, mas falo por mim. Sou assim inquieta porque não perdi a capacidade de me indignar com as coisas e pessoas. E se o preço a ser pago para não perder essa capacidade é esse, que assim seja. Eu pago! Porque, em resumo, ser e permanecer inquieta me torna uma pessoa gradativamente melhor.

O que há de mais frustrante na inquietação, no meu caso, é que muitas vezes não sei bem o que fazer para mudar aquilo que me incomoda, que me agride, me afronta. Nessas horas, sinto-me como se estivesse com os olhos e ouvidos bem abertos, enquanto mãos e pés estão atados e a boca calada. E, então, penso: o que efetivamente estou fazendo para mudar essa ou aquela situação (interna ou externa/ pessoal ou coletiva)? A resposta normalmente é: NADA! ou QUASE nada!. E não fazer nada é péssimo, enquanto não fazer “quase” nada, também. E, assim, inquieto-me ainda mais!

Um exercício que tenho feito é o de reclamar menos e resmungar raramente. Não vamos confundir ou trocar as coisas de lugar. Ter um espírito inquieto é uma coisa; ser ranzinza é outra. Sendo assim, se é para ser ranzinza, que seja bem lá na frente...um dia. Agora não! A prática tem funcionado, embora, vira e mexe, eu ainda me flagre quase caindo na reincidência. Policiamento tem sido a palavra-chave.

Resolvi fazer isso pelo bem da coletividade, mas também e, sobretudo, pelo meu próprio bem. É sério. Porque não bastasse eu ser chata com os que me cercam, consigo ser ainda mais chata comigo mesma. Sou tão autocrítica que chego a me castigar, às vezes. E já passou da hora dessa história mudar. Então, precisei me retirar da cena externa, para alcançar o meu âmago e resgatar o amor incondicional que tenho por mim.

Não que eu não me amasse antes. Não trata-se de ausência de amor próprio ou autoestima. A questão é outra. O amor que tenho por mim é racional e, de certa forma, destrutivo – um amor que cobra mais do que posso ofertar. Por isso, precisei buscar aquele amor que não cobra, não pede, não espera. Ele simplesmente está lá, sempre. No entanto, por estar sempre lá, às vezes, o perdemos de vista. Mas, leve o tempo que levar para reencontrá-lo, não há riscos de não correspondência. Ele é nosso. Todo nosso. E depende apenas de nós para vir à tona. O meu, assim que acionado, veio imediatamente comigo. Sem reservas ou questionamentos. Carente que estava de mim, apenas seguiu-me.

Por Patricia Limeres – em 03/07/2012

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