Nas entrelinhas do apego com desapego

Não subestimando a minha inteligência...alguém pode, por favor, me explicar o que significa essa onda de pegar sem se apegar?

Eu até consigo captar o sentido literal da sentença. É bem direta, inclusive. Provavelmente para nem gerar dúvidas. O que não compreendo são as entrelinhas dessa façanha. Sim, porque na minha concepção a melhor parte, seguida do momento em que conhecemos alguém interessante é justamente o apegar-se a esse alguém.

É permitir-se conhecer o outro e se fazer conhecer. É encantar-se com pequenos gestos imprevistos e até ridículos. É divertir-se com as descobertas. E, ao atingir esse estágio, é segurar esse alguém, usando de jeito ou o que couber para o intento. Os joguinhos de sedução também valem, desde que sejam aplicados na dose certa, sem excessos. Mas o melhor mesmo, independente da estratégia utilizada, é fazer com que queira ficar. Esse é o grande lance. E as pessoas estão fugindo disso, da melhor parte.

Coisas assim só acontecem se estivermos abertos às possibilidades. E o que tem acontecido, ao menos aos meus olhos - talvez viciados, é que as pessoas podam qualquer possibilidade antes mesmo que ela tome corpo e mudam de opinião e interesse na velocidade da luz.

Às vezes, chego a pensar que nem mesmo quem age dessa forma conhece a razão. Não sei se é por medo do envolvimento ou pelo descarte ágil e fácil dele. Na realidade, nem sei se é pelo descarte do envolvimento em si ou das pessoas pelas quais podem vir a se envolver. Sei apenas que não entendo, por mais que eu tente.

Há quem diga que o que rege as relações afetivas é a famosa lei da oferta e da procura. Será a fartura, de um lado, e a competitividade do mercado, do outro lado, os verdadeiros responsáveis pela ausência quase completa de envolvimento entre as pessoas?

Custo a acreditar que na relação entre quantidade e qualidade (com tudo o que envolve essas duas palavras), ainda prevaleça a questão numérica. Não pode ser. No dia em que eu aceitar isso como verdade, vou encarar relacionamentos fúteis, superficiais, movidos a sexo como suficientes. E, de fato, não são. Assim, saio em defesa do apego (com moderado desapego) ao sentimento e ao envolvimento, com tudo o que há de melhor em suas entrelinhas.


Por Patricia Limeres – em 11 de setembro de 2011.

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