Festa estranha, com gente esquisita...

...e já dá para deduzir o final. 
Mas caaaalma! Porque a história que eu vou contar, assim como toda história que se preze, tem começo, meio e fim.
Indo direto aos fatos, tudo começou assim: era Dia dos Namorados. Um dia especial para enamorados. Já para os(as) solteiros(as) de plantão, um dia como o Dia da Árvore (com todo o respeito às árvores). As amigas Vitória e Heloísa, solteiras, recusaram-se a ficar à sombra da árvore e saíram rumo à diversão. 
Ao chegarem ao local escolhido, no bairro do Morumbi, em São Paulo, trataram de dar a famosa voltinha de reconhecimento, que inclui a tradicional visão panorâmica para classificarem o ambiente. Depois de muito observarem, uma olhou para a outra ainda com ares de indefinição.
   - Veja bem, amiga - disse Vitória como quem quer consolar a si mesma - é dia dos namorados, casa cheia, público equilibrado. Pensando por esse lado, ainda há esperança.
   - Ou não. - acrescentou Heloísa não tão convencida, mas bem humorada.
Não demorou muito para elas perceberem que, na realidade, teriam o que podemos chamar de diversão às avessas. A começar pelo fato de que ambas foram de carona com um amigo de Vitória, que se sentiu no direito de vigiá-la o tempo todo. Como se ele fosse o dono e, ela, a bicicleta. No início, ela até levou na brincadeira, mas quando se deu conta de que era sério ficou deveras incomodada.
   - Gente! Ele ainda não entendeu que é só amizade? - desabafou Vitória.
E não é que ele não entendeu mesmo?! Vira e mexe lá estava ele, próximo e fazendo sinais de que estava de olho. Elas aproveitaram um rápido descuido do "vigilante" para darem uma volta sem GPS. Do outro lado do salão, Heloísa avista um carinha com quem teve um "lance" recente e já se anima.
   - Espera um pouco, amiga. Vamos fazer uma parada estratégica por aqui porque acabo de avistar alguém que muito me interessa. - Heloísa sussurra discretamente no ouvido da amiga.
Vitória, curiosa que é, pergunta.
   - Quem? O mocinho do outro dia?
   - É. Ele mesmo. - confirma Heloísa já olhando na direção do rapaz.
Ela se estica daqui, dá um passo pra lá. Tudo para poder vê-lo melhor, mas tem dezenas de cabeças que os separam. Até que, finalmente, abre-se uma brecha e ela se depara com uma cena romântica, daquelas que saem corações e que tem desfecho num beijo desentupidor de pia. Isso mesmo! O carinha estava acompanhado e, com muito esforço, ela avista o bambolê no dedo direito. 
   - Ah, eu não estou acreditando! O safado tem namorada e usa aliança de compromisso! - grita Heloísa, inconformada. 
Pois ela fincou os pés onde estava e resolveu que não sairia dali até que ela conseguisse estabelecer um contato visual com o canalha. Assim, ele saberia que ela o viu e que agora sabia de tudo. E foi exatamente o que ela fez...até que os olhares se cruzaram por acaso. 
   - Muito bonito, hein!? - Heloísa disse praticamente soletrando, em câmera lenta, para que ele pudesse fazer a leitura labial. Depois, saiu andando no meio da multidão.
Mais tarde, quando Heloísa já havia se desligado um pouco do assunto, encontrou com o mesmo cara na escadaria e...constatou que no escuro e depois de umas cervejas todo mundo é igual. Ela havia se enganado. O cara que estava lá com a namorada não era o cara que ela pensou que era.
Imediatamente, Heloísa puxou Vitória pelo braço.
   - Vitória, vamos sair daqui agora! - disse Heloísa, com os olhos arregalados.
   - O que foi agora? Não me diga que ele não te reconheceu e está te paquerando.
   - Não!!! Ele nem poderia me reconhecer - Heloísa tenta explicar.
   - Como assim? Vocês se conheceram tem pouquíssimo tempo. - protesta Vitória.
   - Amiga, hello! Eu me enganei. O cara não é o cara, entendeu?
   - Tá brincando? - duvida Vitória, mas já caindo na gargalhada.
   - Não ri, não. Eu estou querendo sumir de vergonha. Que situação! - lamenta Heloísa pela gafe. 
E, por falar em situação. As situações estranhas e bizarras não pararam por aí e surgiam do nada e em intervalos bem curtos de tempo. Mal elas se recuperavam de uma cena e já vinha outra na sequência. 
   - Ô Vitória, se a gente contar ninguém vai acreditar. - comenta Heloísa numa entonação entre o riso e a indignação - Parece até pegadinha. A impressão que dá é que a qualquer momento o pessoal da produção vai se aproximar e pedir para a gente sorrir para a câmera escondida. 
Vitória se diverte com o comentário da amiga e aproveita para pôr mais pilha.
   - Olha...até que não seria de todo ruim se fosse tudo brincadeirinha. Duro mesmo é pensar que é de verdade.
Mas o pior de tudo ainda estava por vir. E veio. As duas dançando, descontraídas. Bebidinhas nas mãos. Sorriso no rosto. Fingindo que estava tudo bem. De repente, um rapaz se aproxima de Heloísa e puxa papo. Até ai, tudo normal. Ele faz as perguntas habituais, ela responde e faz outras perguntas também habituais. Papo vai, papo vem e ele demonstra-se interessado. Detalhe: ele é conhecido do amigo "vigilante" da Vitória. 
Em dado momento, um dos amigos da turma deles tira Heloísa para dançar (algo natural em se tratando de um bar que toca pagode). Ela, apaixonada por dança, aceita.
   - Você pode segurar a minha cerveja enquanto eu danço essa música? - ela pede educadamente ao rapaz paquerador.
   - Claro! Vai lá. Eu te espero. - responde ele.
Como a música já estava na metade, não demorou muito para Heloísa retornar. Ainda animada com a dança ela foi até onde ele estava sem perceber que já estava flertando com outra moça. Sem graça com a situação, ela diz o que primeiro veio à mente.
   - Cadê a minha cerveja? - disse, com esforço, em tom casual.
Ele, muito sem jeito, olhou para a mão da moça com quem estava "conversando". Foi neste momento que Heloísa percebeu o que estava acontecendo. 
Ele ofereceu a cerveja de Heloísa (a quem estava paquerando dois minutos antes) à nova paquera. A nova isca, por sua vez, aceitou e estava bebendo a cerveja que não pertencia a ele. Não bastasse isso, ele tirou a cerveja da mão da moça e fez menção de devolver à Heloísa. 
   - Não, pode ficar com ela. Obrigada! - disse Heloísa, após olhar para a cerveja, para o escroto, para a moça e novamente para o escroto, exatamente nessa ordem.
Heloísa voltou para o lugar onde estava Vitória ainda sem acreditar no episódio que acabara de vivenciar. Olhou para trás apenas para se certificar de algo. E a sua intuição estava certa. A moça aceitou a cantada com direito a baba não da boca, mas da lata. 
A caminho de casa, Heloísa relatou o ocorrido com detalhes à Vitória que ria sem parar. 
   - Sabe de uma coisa? - perguntou Heloísa - Eu não fiquei brava pelo cara ter se interessado por outra...até porque ficou claro que ele não valia muito a pena e nem seria um possível candidato a futuro namorado. O que me incomodou mesmo foi ficar sem a minha cerveja. Porque amiga, cá pra nós, em festa estranha, com gente esquisita, se eu não beber...definitivamente eu não fico legal. 

Por Patricia Limeres - em 07 de julho de 2010.


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