De volta à praia

Nasci em Santos e vivo no litoral desde sempre.

Quando viajo para o Interior e sou questionada sobre as minhas origens as pessoas demonstram certo estranhamento. Como assim, morar na praia e ser branca desse jeito?

Não é que eu não goste de praia. Não mesmo. Gosto muito. Porém, nunca fui de ficar torrando ao sol. Para ser bem franca, sempre achei um tédio ficar ali sem fazer nada. Então, ficava confortavelmente por cerca de uma hora, no máximo. Já me era suficiente.

O que mais gosto da praia é o som das ondas quebrando no mar; a brisa que afasta os cabelos do rosto ou, dependendo da direção do vento, os coloca exatamente sobre a face num emaranhado de nós.

Gosto mais da praia vazia. Porque me agrada a tranquilidade, a energia, os sons e ruídos próprios do ambiente. Aqueles que só ouvimos quando estamos lá.

Talvez eu possa atribuir o meu desinteresse em relação à praia ao fato de estar muito ao alcance dos pés. É, eu sei que normalmente utilizamos essa frase com a palavra “mãos” no lugar de “pés”, mas é que nesse caso, considero ao alcance dos pés mais apropriado. Sim, devido à proximidade entre a minha casa e a praia. A rigor, isso deveria me incentivar, não? Pois é, cada vez mais me convenço de que comigo as coisas funcionam às avessas.

Assim, por muito tempo a praia se tornou uma espécie de paisagem daquelas que a gente aprecia de longe, sem fazer questão de se inserir nela.

Quantas vezes eu recusei convites de amigos para passar o dia na praia. Perdi as contas. Só em pensar em ficar lá estirada por horas me dava até gastura.

Mas é incrível como nada é imutável mesmo. É curioso como podemos nos descobrir com gostos modificados a certa altura da vida. É por isso que é interessante nos convidarmos a reexperimentar situações ou coisas que pensamos não gostar. Porque algo pode ter mudado dentro de nós sem dar aviso ou sinal.

Sabe, não sou muito boa em dar conselhos, mas me atrevo a deixar uma dica. “Não estejamos fechados ao novo”. É o que sempre falamos e ouvimos. Gostaria de acrescentar algo: estejamos abertos ao velho também.

Não faz muito tempo. Pouco mais de um mês, se eu não estiver tão ruim de cálculos (coisa que eu sempre fui), uma amiga me convidou para ir à praia nesse esquema de se esquecer por lá. Era domingo. E iria um grupo de mulheres.

Foi nesse dia que resolvi mudar as regras da minha rotina já tão estabelecida: entre elas, não ir à praia para ficar torrando por horas a fio. Topei. Logo depois, me deparei comigo mesma estirada na toalha de praia, de bumbum para cima (coisa que sempre me constrangeu) e papeando sobre amenidades sem perceber o passar do tempo.

Foi, sem dúvida, um dos programas mais prazerosos e baratos dos últimos tempos. Além de me render uma marquinha charmosa de biquíni.

A experiência foi tão positiva que resolvi fazer um teste. Eu estava de folga, era dia de semana e, enquanto todos os conhecidos trabalhavam, eu resolvi ir à praia sozinha. Queria saber se tinha gostado porque estava em boa companhia. Resumindo: fiquei na praia por quatro horas deliciosas, em minha exclusiva companhia.

De lá, para cá, quando há sol e eu estou com tempo livre é para lá que eu vou. Ontem mesmo, sábado, estava um tempo meio indefinido. O sol ia e vinha. Arrisquei e fui. Logo depois, o tempo firmou e um dia lindo de sol se abriu. Será que eu levei o sol? Gosto de pensar que sim, embora eu saiba que não. Isso, sim, seria poder.

Hoje, fiz o mesmo. No entanto, não dei a mesma sorte. O tempo não abriu. O sol não apareceu de jeito nenhum. Quem deu as caras foi a chuva. Uma chuva fininha e persistente. E, de repente, me vi na praia, em baixo do guarda sol me protegendo, não do sol, mas da chuva. Pensa que fui embora? Engano seu.

Fiquei lá...observando as famílias inteiras reunidas ao meu redor; as crianças brincando na areia; os grupos de amigos bebendo, conversando e dando risadas...e, com isso, descobri mais uma mudança de gosto: também curto a praia cheia, incluindo todos os ruídos característicos de gente presente.

Assim como eu, muitos ficaram. Ficou também a brisa solta, o cheiro de maresia, o ruído do mar. Esses sempre ficam, com ou sem espectadores.


Por Patricia Limeres – em 09 de outubro de 2011.

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