Minha MÃE, meu TUDO!

Há exatos 64 anos, chegava ao mundo a verdadeira mulher maravilha! Não aquela do desenho animado, dotada de super poderes. Não. Falo de uma mulher real, de carne e osso. Uma mulher que sente calor e frio; que ri e também chora – e chorou muito; que tem fome e sede – sobretudo, de justiça. Enfim, uma mulher que sente e que, aliás, sente demais.

Ela nasce em 24 de julho de 1948, na Espanha. Preciso dizer que tem o sangue quente, os nervos à flor da pele e a língua afiada? Detalhes...

Ainda menina vem para o Brasil com seus pais, de navio. Ironia ou consequência, ela tem pavor de mar e tempestades. É em Santos sua nova morada. Ela vai à escola, como todas as crianças. Sofre o preconceito de seus mais novos colegas...ela não fala o mesmo idioma. Tão pequena e já sofre. Não entende. Entende apenas que não é aceita. E, para ser aceita, procura livrar-se do seu idioma o quanto antes. Do sotaque também.

Aos 12 anos, a sua vida profissional tem início. Se por necessidade? Não. Apenas por disciplina, responsabilidade. Se esse era o objetivo de seus pais, a missão foi cumprida com êxito absoluto. Senso de responsabilidade foi o que não faltou a essa menina mulher.

Além de trabalhar duro, ela criava e costurava suas próprias roupas. Ainda precisando de cuidados, já cuidava de si. Parece alguém que eu conheço.

Casou-se nova, para os dias de hoje. E, cá entre nós, não contraiu matrimônio com quem seu coração sonhava. Seus irmãos mais velhos cuidaram de afastar seu enamorado. E assim foi. Porque a vida não é conto de fadas.

O casamento teve seu período bom, mas depois de um tempo...
Foram 14 anos. Teve três filhas. Por elas, tomou a decisão mais corajosa que uma mulher, naquela época (1984), poderia tomar: pedir a separação. Se havia uma coisa que ela mais queria na vida, era dar o bom exemplo às filhas. O exemplo que ela teve em casa. Essa mulher enfrentou os seus medos, a família e a sociedade. Tudo por uma convicção.

A separação não foi muito amigável. Sim, porque quem mais erra é normalmente quem menos aceita. No entanto, mulher de fibra e pulso firme que é, não voltou atrás de sua decisão. Ao contrário, arrumou as malas, suas e de suas filhas, e foi apenas com elas (as filhas e as malas) que ela saiu de casa. Ali, naquele ponto, começava uma nova vida.

Uma vida de apertos, movida, em princípio, com a ajuda de alguns poucos. Mas, principalmente, uma vida de amor incondicional, de troca, de união. E não demorou muito para que essa guerreira se recolocasse no mundo, acompanhada de suas três filhas ainda crianças. E sem pai, nem pensão, nem tostão, foi SOZINHA que ela criou e educou essas meninas. Foi sozinha que ela formou o caráter delas. Foi sozinha, trabalhando praticamente de segunda a segunda, que ela sustentou essas meninas. Foi sozinha que ela segurou a onda, o peso, a responsabilidade. Foi sozinha que ela chorava nas noites que não sabia o que fazer.

Essa mulher viveu uma vida de abrir mão. Não voltou a se casar. Nem namorou. Nem se envolveu com mais ninguém. Por opção. Suas dores foram muitas. Seus traumas sem tamanho.

Quem é essa mulher?
Quem é essa mulher que varou noites e mais noites sem dormir, velando meu sono quando eu era ainda um bebê fraco?
Quem é essa mulher que tirou leite do peito para me dar de colherinha porque eu não gostava de leite?
Quem é essa mulher que me deixava no penico até que eu fizesse xixi ou cocô...ou aprendesse a pedir quando quisesse ir ao banheiro?
...que compreendeu que eu precisava chupar chupeta até os 7 anos de idade, porque simplesmente me acalmava para dormir?
...que não me deixou ir para a pré-escola porque tinha medo que as crianças me machucassem (eu era miudinha demais)?
...que me levou para a escola no primeiro dia de aula da minha vida e, ao ver-me chorar na despedida, de medo do desconhecido, ficou do lado de fora do portão chorando também?
...que foi até a escola tirar satisfação com a professora que me humilhou perante a turma porque eu não conseguia resolver uma conta de divisão com três números na chave, no quadro negro (lousa);
...que me ensinou a respeitá-la e obedecê-la apenas pelo olhar?
...que me ensinou ainda bem cedo o valor das coisas...e das pequenas coisas?
...que morria de ciúmes quando eu ia todo final de semana para Cubatão para poder brincar com minhas primas de mesma idade?
...que comprou meu primeiro computador, em 24 vezes, para fazer os trabalhos da faculdade?
...que, quando eu sofria com o rompimento de um relacionamento, ia conversar em segredo com meus ex-namorados para tentar resolver o que não tinha mais solução?
...que pediu dispensa mais cedo do trabalho, em pleno fim de ano – época de muito movimento no comércio, para me ver dançar porque sabia o quanto era importante que ela estivesse lá?
...que fez milhares de fuxicos para o figurino de dança das minhas alunas?
...que assistiu a inúmeros filmes comigo e repetidas vezes, comentando cada cena da qual gostava como se fosse a primeira vez que estivesse assistindo?
...que brigou comigo quando achou que eu merecia?
...que chamou minha atenção, que me deu limites, que me disse não?
...que me apoiou totalmente quando tomei a decisão de ter o meu espaço, minha privacidade e independência?
...que bateu perna atrás de apartamento dentro da faixa de preço que eu podia arcar?
...que encontrou o apartamento?
...que ficou esperando pelos móveis dias inteiros sozinha no apartamento vazio?
...que tentou me acalmar quando os cupins invadiram o pedaço?
...que me ajudou a me livrar deles, me emprestando o dinheiro?
...que reza por mim todos os dias, tardes e noites?
...que me ama com todos os meus defeitos e fraquezas?
...que...
...que...

Essa mulher maravilha da vida real é a minha mãe. A mulher que me deu a vida e que fez de sua vida o meu exemplo, o meu espelho, a minha referência. A mulher mais honesta e digna que já conheci em toda a minha vida. Acho que a mais sincera e transparente também. É, sem dúvida, é.

Mãe, nessa data tão especial e em todos os demais dias de sua vida - que serão muuuuitos, quero dizer que você é a minha mulher maravilha. Um exemplo de luta, batalha, determinação, garra, coragem fé e vida. Você é meu TUDO!!!

Parabéns!!! Felicidades!!! Muuuuitos anos de vida!!! Muita saúde!

Se eu sou quem sou hoje é porque fui plenamente influenciada por você. E agradeço todos os dias por isso. Por toda essa intensidade que me transmitiu. Obrigada por ser quem você é e ter me conduzido, oferecendo toda a base para me transformar em quem eu sou. Falo por mim. Falo por minhas irmãs também. Te amo! Te amamos!!!


Escrito por Patricia Limeres em 24 de julho de 2012

Comentários

Bruna Nunes disse…
AMEEI O TEXTO
com certeza sua mãe é muuuuito orgulhosa de voce
beijos
Patricia Limeres disse…
Bruna,
eu quem tenho motivos para me orgulhar da mãe que tenho.
Obrigada!
beijos

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