O que sinto não tem nome

É noite.
Deito na cama, mas não tenho sono.

Até o tempo, que geralmente tem sido curto, agora deu para me contrariar.
Só de pirraça resolveu se prolongar, se arrastar demasiadamente.

Engraçado. A cama parece maior do que nas noites passadas.
Então, busco no alcance do olhar algo de pequeno porte.
Porque é assim que me sinto: pequena.

Uma pequena grande mulher.
Uma mulher que, desde bem cedo, aprendeu a definir o que quer.
Ainda que quisesse pouco e aos poucos.
Uma mulher que escolheu, sem pudor, demonstrar o que quer...e o que não quer.
E que paga o preço de ser o que é.

É de mim que estou falando. Dá para acreditar? Nem parece.
Estranho isso. Talvez não me reconheça mais. Mas sim. Sou eu mesma, ainda.

Sempre tomei a dianteira. Sem medo.
Aliás, por falar em medos, fui convidada pela vida a enfrentá-los ainda bem jovem.

Por muitas vezes senti orgulho de mim.
Das minhas escolhas.
Da minha força. Garra. Determinação.

Hoje, entendo porque me tornei fortaleza.
Ninguém suporta os fracos, inclusive eu.

No entanto, não posso negar que sou um misto de força e fragilidade.
É sutil a linha que divide esses dois extremos em mim.

E quer saber?
A minha fatia forte pede arrego.
Sinto-me fraca. Cansada.
Desanimada.

Sinto decepcionar aos que esperam de mim apenas força.
Mas eu também preciso de colo. Afago.
Peço que respeitem esse meu direito.

Quem me conhece, sabe.
Eu sou assim, correnteza...vendaval.
Tudo...nada.
Agora...nunca.
Aqui...ali.
Mas no fundo, sou apenas...sempre.

Sou brava. Sou firme.
Durona. Teimosa.
Mas no fundo, quero apenas ser amansada.

Tomo iniciativa porque gosto de atitude.
É isso que espero das pessoas.
E normalmente me frustro.

Estou para ver alguém que me surpreenda.
Já desisti de esperar por isso.

O telefone, quando toca, costuma ser em horário e dia habitual.
E nunca, pelo menos até o momento, para dizer inesperadamente algo do tipo: “desce, estou na porta”.
O e-mail, quando vem, chega tarde demais e a mensagem não supre o atraso da chegada.

Para lidar comigo não é preciso manual de instruções. Apenas sensibilidade.
É pedir muito? Parece que sim.
Mas já que é assim, permita-me fazer um pedido?
Se não tem a intenção de ficar, ainda que por pouco tempo, faça a gentileza de nem entrar.

Esta manhã acordei desejando algo que nem ouso mencionar. O dia passou. Já é noite alta e, agora, desejo apenas pegar no sono.

Escrito por Patricia LImeres - em 22 de setembro de 2011.

Comentários

Que lindo, amiga. Consegui vivenciar o seu momento enquanto lia. Me identifiquei em muitos momentos da minha vida. Somos guerreiras. E tudo é fase. Certamente vai um dia vai chegar alguém e avisar na portaria: "to entrando - e é pra ficar".
Beijao. Quando vamos ver a peça? Ja estou com os vouchers.
Patricia Limeres disse…
Oi amiga,
adorei o seu comentário!!!
Vou te ligar...tenho novas. Vou passar o próximo final de semana em SP, na sua casa...posso? rs
beijão

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