Cadê a minha juventude que estava aqui?

Lembro que no auge dos meus vinte aninhos (e isso nem faz muito tempo...posso jurar que foi ainda outro dia), quando eu saía para badalar (nossa! Esse termo é bem antiquado, né?) bom, voltando...quando eu ia para as baladas e me deparava com a figura de mulheres mais velhas, ou melhor, mulheres com a mesma faixa etária da minha idade atual, eu pensava: quando eu for trintona, não vou pagar de mocinha indo para a balada.

Era esse o meu pensamento, confesso. Pois é, bem tosco e preconceituoso, eu sei, mas não o nego. E não era um pensamento só meu, não. Muita gente pensava assim. Hoje, mais madura, penso que, na realidade, o que não eu não queria mesmo era chegar à fase dos “inta” sem ter ainda uma companhia para desfrutar outros tipos de programações.

De qualquer forma, independente da tradução ou interpretação que se possa dar ao meu pensamento da época, no momento atual, em plenos trinta e tantos anos, vivo uma espécie de Déjà vu, no banheiro da balada. Será que consigo descrever a cena com imparcialidade? Ok, vou tentar...

Tudo começou assim: eu estava lavando as mãos ao mesmo tempo em que observava o meu reflexo no espelho. Até aí, nada de surpreendente. Em algum momento desse ritual tão automático para as mulheres, minha atenção foi atraída pela movimentação e excitação das jovens (bem jovens) ao redor. Engraçado. Imediatamente, reconheci nelas a minha excitação de antes.

De propósito, prolonguei o meu tempo no banheiro por mais alguns instantes e nesse curto espaço de tempo pensei: que estranho! Alguma coisa parece estar errada nessa cena. Onde está aquela minha empolgação? Já não me pertence mais? Ou será que eu já não pertenço mais a esse tipo de lugar, cenário e situação?

Enquanto me fazia esses questionamentos, reparei com mais atenção no grupo de jovens e, então, reconheci algo bem familiar no ar. Ao passo em que lancei um olhar discreto, recebi em troca aquele mesmo olhar que no passado eu lançava, acompanhado do pensamento "eu não quero estar na balada quando chegar à idade dela". Estava ali, bem diante de mim, a tradução perfeita, clara e prática do que se denomina "inversão de papeis".

O tempo passa. O mundo dá voltas e normalmente volta exatamente para o mesmo ponto. No entanto, o lugar pode até ser o mesmo, mas já não somos mais as mesmas pessoas de antes. Aliás, ainda bem que não. Mesmo assim, tenho de admitir que a energia daqueles olhares me deu o que pensar. Sabemos que os tempos mudam. E como mudam. Mas e os pensamentos e julgamentos, será que sofrem variações? Naquela noite, tive a impressão de que os pensamentos permanecem onde e como são, somos nós que mudamos de posição.

Depois de muito refletir a respeito, cheguei a algumas conclusões não conclusivas, mas que já me bastam. Não importa a idade que eu tenha. O lugar onde estou ou quero estar não pode e não deve ser definido ou indicado com base na data do meu nascimento. Ninguém, absolutamente ninguém, tem o direito de dizer onde eu devo ou não devo estar. Essa decisão é minha. O meu estado de espírito me leva para aonde eu verdadeiramente quero ir. Eu apenas permito-me segui-lo sem medo do ridículo.

E que desculpem as jovens de idade, mas o meu espírito é quase criança. Desculpem-me também aquelas mulheres de espíritos tão jovens quanto o meu a quem eu julguei, um dia, com o meu excesso de juventude infantil.

Afinal de contas, onde está a minha juventude? Deixe-me ver se consigo responder. A mental, penso que tenha ficado lá na juventude. E que fique por lá, pois é o seu devido lugar. Já a do coração e espírito, essa eu trago comigo e espero não perdê-la de vista, por onde quer que eu vá e seja lá com quem eu esteja.

Por Patricia Limeres – escrito em 26 de novembro de 2010.

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