Os pensamentos pedem passagem

Amanheci com vontade de escrever, o que não é nenhuma novidade. Às vezes, desperto quando ainda é madrugada querendo dar vida ao texto que pede para nascer. E não é à toa, trata-se de algo que está entre as coisas que mais me dá prazer. 

Até tempos atrás, sempre que sentia essa necessidade quase que urgente de escrever buscava uma oportunidade imediata para rascunhar meus pensamentos. Alguns valiam uma lapidação para posterior publicação, outros serviam apenas para ocupar lugar junto a tantos outros numa gaveta, pasta ou caixa. 

De uns tempos para cá, não tenho encontrado muito sentido em escrever. Isso teve início não sei dizer bem quando. O que sei é que me vi em conflito: por que escrever? Ou melhor, para quem? Quem vai ler ou se interessar pelo o que tenho a dizer? São coisas minhas.
 
Contudo, a vontade de escrever não se fez menor ou menos frequente, mas o que eu fazia com ela começou a mudar. Eu continuei escrevendo vez ou outra, mas com um espaçamento de tempo maior entre um texto e outro. Não demorou muito até me deparar com uma cena que passou a ser comum: quando a vontade de escrever chegava ao ponto ápice em que os pensamentos já estavam nas pontas dos dedos, prontos para ganharem outro espaço que não fosse a minha mente, eu ficava inerte esperando a tal necessidade passar. 

Para ser sincera, a vontade nunca passava, apenas desistia. No entanto, os pensamentos não. Muitos deles continuam prontos e presos nas pontas dos meus dedos, atentos à qualquer oportunidade ou possibilidade de libertartação. Eles pedem passagem a todo tempo. 

Hoje, quando me percebi esperando novamente a vontade de escrever passar, perguntei-me a razão de estar fazendo isso. Ao resgatar da memória o motivo, me senti uma tola. Sim, porque eu não escrevo para que meus textos sejam essencialmente lidos. Escrevo por simples gozo. Gosto da forma como os vou construindo. Gosto ainda mais de lê-los e relê-los sempre que posso e, cada vez que o faço, tenho uma nova leitura. Me despertam uma outra sensação ou até a mesma de antes, renovada e reafirmada.  

Portanto, vejo que faz mais sentido escrever, ainda que seja para ninguém ler, do que não dar vazão a tudo aquilo que insistentemente pede vez ou voz. 

Tudo o que escrevo sai do meu íntimo. Portanto, é legítimo. Se é bom ou ruim; se é lido por um ou por mil...não importa. Está e foi escrito por mim, num dia em que os pensamentos pediram passagem para se tornarem palavras escritas e eu permiti que passassem.

Por Patricia Limeres - em 23 de junho de 2010.

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