Bom mesmo é...

Até bem pouco tempo eu não havia me dado conta de algo que hoje me parece tão óbvio. Parece não, é óbvio mesmo. No entanto, confesso: EU NÃO PERCEBIA. E entendo bem porque percebo agora.

É bom demais viajar. Não importa se de avião, ônibus, trem, navio, carro, moto, bicicleta ou até em sonhos e pensamentos. O fato é que traçar roteiros, conhecer lugares e pessoas, vivenciar costumes, hábitos e culturas diferentes, praticar outro idioma ou pegar o sotaque de uma região da nossa própria terra, apreciar a culinária local, observar os pequenos detalhes que o novo sempre nos apresenta, passear, esquecer da hora, comprar lembrancinhas (e sempre esquecer alguma), fotografar, filmar...

Tudo isso é muito bom, mas bom mesmo é...voltar para casa. 
Melhor ainda é voltar e ter para quem contar sobre o que vimos e vivemos, falar sobre as pessoas que conhecemos, mostrar os momentos que registramos, tentar traduzir em palavras o que nem mesmo uma imagem seria capaz de captar e presentear essas pessoas das quais lembramos com aquelas lembrancinhas que compramos, lembra?

Na realidade, é a volta que dá sentido à ida. Louco isso. Mais louco ainda é quando a nossa imaginação nos permite fazer todas essas coisas sem que precisemos sequer sair do lugar.

E, por falar em sair, taí mais uma coisa bacana de se fazer. O lugar e o programa não fazem muita diferença, o importante mesmo é sair, ver gente e também se fazer enxergar pelos outros. Pode ser um passeio no shopping, uma visita à casa de amigos, almoçar ou jantar em restaurante, sentar num aconhegante café, pegar um cineminha, dar uma caminhada na praia ou no parque, passear de bicicleta, ir ao teatro, sair para beber, dançar e paquerar...são inúmeras as possibilidades.

Tem coisa melhor? Pois arrisco-me em dizer que SIM. É evidente que sair é sempre uma excelente pedida, mas depois de passar horas andando de um lado para o outro, feito uma barata tonta no shopping; ou tagarelar sem parar na casa de amigos; ou se empanturrar de tanto comer as delícias que não tivemos que preparar; de assistir um bom filme; espetáculo ou show; de cansar as pernas e pés de tanto andar ou pedalar; ou até, por fim, de dançar tanto a ponto de os pés cansados pedirem socorro, ao mesmo tempo em que a cabeça gira já apresentando os efeitos da bebida...enfim, depois de sair, seja para onde quer que tenhamos ido, bom mesmo é...voltar para casa. 

Não é à toa que se utiliza muito a expressão: lar doce lar. Também, chegar em casa depois de passar por qualquer uma dessas situações não tem preço e faz qualquer lar parecer um verdadeiro recanto. Chega ser engraçado como, ao chegar em casa, logo queremos nos libertar daquilo que é externo. E é mesmo libertador tirar as roupas que parecem que  já não nos cabe, mas não antes, é claro, de tirarmos os sapatos que estão acabando com os nossos pés. Depois, tirar a maquiagem também é um ritual bastante comum entre as mulheres. Aí, sim, vem o princípio do alívio. Passadas todas essas etapas, só um banho revigorante. E, para fechar, se refestelar na cama ou no sofá, ligar a TV, trocar de canal três vezes, no mínimo, e pegar no sono com a TV ligada. Existe algo mais comum e familiar? Por todas essas razões, no meu ponto de vista, sair é bom e, cá para nós, não abro mão, mas voltar...ah, voltar é ainda melhor.

Ter uma profissão, trabalhar, ser útil...também é ótimo. Afinal, desde que nascemos somos preparados para esse intento. Além disso, todos que já ingressaram na vida profissional sabem e lembram o valor simbólico do primeiro "ordenado". É com ele que normalmente as pessoas realizam os desejos mais imediatistas, urgentes e até secretos que carregam consigo. Muitas vezes, são desejos simples e até divertidos, mas aparentemente inatingíveis. Inatingíveis até aquele momento.

É a partir desse encontro com o resultado do trabalho, em espécie $, que as pessoas que não gostam da atividade que exercem fazem a relação entre o esforço e a recompensa e, então, pensam: valeu e vale a pena! É importante destacar que quase nunca vale pelo montante de dinheiro envolvido - já que estamos falando sobre o primeiro salário, mas pelo o que representa: independência, por vezes, relativizada; segurança; autoestima. 

Já as pessoas que iniciam as atividades profissionais desempenhando algo que gostam de fazer, nesse mesmo momento, percebem que além de serem úteis e se realizarem na execução de suas funções ainda são remuneradas e, assim, pensam: que sorte a minha!

Independente do nível de contentamento que o nosso trabalho nos causa, traz ou dá, é bom demais trabalhar. A questão é: ficar aquelas seis, oito horas (ou até mais) no escritório, no comércio, no banco ou em qualquer outro ambiente e/ou estabelecimento relacionado ao nosso trabalho é bom e faz parte. Entretanto, depois de um dia produtivo de trabalho, bom mesmo é...voltar para casa (e isso vale apenas para quem trabalha fora de casa).

A sensação de pisar o nosso chão, olhar para as nossas paredes, identificar a presença dos nossos objetos devidamente colocados, ou não, nos lugares escolhidos por nós ou em conjunto com a nossa família, observar as próprias bagunças e, partir daí, perceber que estamos no nosso lugar são coisas que só sentimos e percebemos quando voltamos para casa. E é tão bom ter para onde voltar.


(Penso que passei a entender, perceber e sentir quão bom é voltar para casa quando me vi diante da "minha" casa. E quando falo em voltar para "casa" não me refiro ao imóvel, ao bem material, mas sim à casa enquanto lar, enquanto espaço que é nosso recanto, porto seguro...não importa a nomenclatura que queiramos usar. Trata-se de algo recente e ainda novo para mim, mas desde então, tenho vivido intensamente esses momentos bons e únicos de...voltar para casa. Esse texto foi escrito em uma dessas vezes em que...voltei para casa) 


Por Patricia Limeres - em 16/06/2010.

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