O interesse não reside em lugar comum

Sei que as relações humanas, incluindo as românticas, andam meio tortas e sem sentido. Aliás, é tão nítido que todo mundo sabe. Não é novidade. Porém, incomoda-me que estejam assim, no ponto em que estão.

Ao ouvir as histórias de amigas, cujas quais, às vezes, se identificam com as minhas, fico tentando encontrar o ponto chave em comum, porque é muito provável que haja um. Ao mesmo tempo, penso que a mais simples de todas as possíveis explicações e talvez a mais precisa seja a "preguiça" das partes.

Vejamos se essa hipótese tem algum cabimento. Se a demonstração de interesse passa primeiro pela atitude e iniciativa, assim como necessita de uma boa dose de coragem, a hipótese estaria automaticamente descartada, certo? Porque nenhum desses quesitos tem qualquer familiaridade com a preguiça. Pelo menos é o que parece.

No entanto, deve-se levar em conta também o nível de demonstração de interesse. Sim, porque há quem pense (e isso inclui muita gente) que um "oi, tudo bem?" é suficiente. E aqui cabe um alerta importante: não é. Um cumprimento é mera introdução. Precisa do resto. Pede desenvolvimento, continuidade e certa frequência. Sem isso, não se configura o interesse real e, portanto, não propicia ao outro o despertar de qualquer interesse em reciprocidade. Fica tudo no zero a zero.

O que tenho notado é que sobram "oi, tudo bem?" e faltam desdobramentos. Aí, vem a dúvida: trata-se de preguiça ou falta de foco? A mensagem foi direcionada para uma única pessoa ou para três ou quatro? Sabe-se que nos dias de hoje opções não faltam. Espera-se que também sobre quem não se contente com essas migalhas de atenção.

A falta de criatividade nas abordagens é comum. Falta inteligência também. E é neste ponto em que entra a preguiça de quem recebe esses cumprimentos desprovidos de qualquer conteúdo sequencial. Como disse antes, o oi faz parte, mas desacompanhado não leva a lugar algum. E, assim, como num passe de mágica, o desinteresse aparece antes mesmo que o interesse dê o ar da graça. Não é pra menos.

A decisão de conhecer ou se aproximar de alguém envolve um mínimo de dedicação. Exige disponibilizar tempo. Se está fora do seu propósito, nem comece. Se tudo o que tem a oferecer se limita ao contato preguiçoso do "oi, tudo bem?", guarde-o para si. As pessoas abertas e dispostas a conhecer o outro esperam mais, bem mais. Poupe-as da frustração.

Agora, se está mesmo interessado, pare com esse negócio de mensagens repetidas. Chame para sair, dar uma volta, jantar, lanchar, almoçar, beber algo. Qualquer coisa "cara a cara". 

Vivemos pedindo surpresas à vida e esquecemos que elas acontecem o tempo todo, mas acontecem lá fora. É preciso sair para viver e testemunhar.

Por Patricia Limeres - em 24 de junho de 2017.

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